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Nelson Mandela

Hoje, 18 de julho, é o Dia Internacional Nelson Mandela. Mas quem foi Nelson Mandela? O que ele fez? Descubra...

Nelson Rolihlahla Mandela é um advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999, considerado como o mais importante líder da África Negra, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1993, e Pai da Pátria da moderna nação sul-africana.
Até 2009 havia dedicado 67 anos de sua vida a serviço da humanidade - como advogado dos direitos humanos e prisioneiro de consciência, até tornar-se o primeiro presidente da África do Sul livre, razão pela qual em sua homenagem a ONU instituiu o Dia Internacional Nelson Mandela no dia de seu nascimento, como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia.
Nelson Mandela em 2008 (Foto: Wikimedia)

Vida

Nascido numa família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior onde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, abandonou este destino aos 23 anos ao seguir para a capital Joanesburgo e iniciar atuação política. Passando do interior rural para uma vida rebelde na faculdade, transformou-se em jovem advogado na capital e líder da resistência não-violenta da juventude em luta, acabando como réu em um infame julgamento por traição, foragido da polícia e o prisioneiro mais famoso do mundo, após o qual veio a se tornar o político mais galardoado em vida, responsável pela refundação de seu país - em moldes de aceitar uma sociedade multiétnica.
No ano de 1949, o governo sul-africano aprova o regime legal segregacionista, de nome apartheid. Em 1951 Mandela é eleito presidente da Liga Juvenil do Congresso Nacional Africano (ANCYL) e no ano seguinte presidente do Congresso Nacional Africano (CNA) na província de Transvaal, o que o coloca como vice-presidente nacional da instituição.
Neste período é secretário do Johannesburg International Club, um dos poucos lugares em que se podiam reunir pessoas de várias nacionalidades.
No ano de 1950 novas leis segregacionistas são impostas pelo governo, numa ação que levou à tomada de terras de negros, mestiços e indianos; num claro exemplo desta ação, mais de cinquenta mil negros moravam em Sophiatown, em Joanesburgo, e foram todos desalojados em 1953.
26 de junho de 1952 tem início a Campanha de Desafio, com o Dia do Protesto e Mandela torna-se seu porta-voz e chefe nacional; por todo o país os negros são convidados a usarem os espaços reservados aos brancos - em banheiros, escritórios públicos, correios, etc. - resultando na prisão de Mandela por dois dias, junto a outros companheiros de luta, como o indiano Yusuf Cachalia. É preso em várias ocasiões e passa vários dias encarcerado; finalmente é condenado, junto a outros dezenove companheiros, com base na Lei de Repressão ao Comunismo, a uma pena de nove meses de trabalhos forçados, que é suspensa por dois anos; recebe também neste ano a primeira de várias ordens de interdição, proibindo-o de participar de atividades políticas.
Foi também em 1952 que abriu o escritório advocatício Mandela & Tambo, sociedade que durou até 1958. Ali atendem a centenas de casos, na defesa dos interesses de clientes negros. Diria, mais tarde, que "o regime do apartheid tinha dado à lei e à ordem má reputação." Apesar disto a Suprema Corte rejeitou um pedido da Transvaal Law Society para negar-lhe o direito de advogar.
Em 1953, em Sophiatown, Mandela profere um discurso em que pela primeira vez diz que os tempos da resistência passiva haviam passado. Walter Sisulu empreende uma viagem ao exterior e seu amigo lhe pede para, passando pela China, conseguir o apoio daquele país para a luta. Mas no CNA a ideia é rechaçada, especialmente por Moses Katane, para quem o momento não havia chegado. Katane é convencido, mas a executiva, especialmente o Chefe Luthuli, se opõe com firmeza, mantendo a diretiva da não-violência.
Em 1954 no CNA, sob a presidência do Chefe Albert Luthuli, um zulu, junto a Mandela e Walter Sisulu, é criado o Congresso do Povo, com o objetivo de unir todos os não-brancos, vitimados pelo sistema racista que se instalara no país.
Em junho de 1955 ocorreu uma reunião do Congresso do Povo, num local perto de Soweto, Kliptown. Mandela e Sisulu, ainda sob a ordem de restrição que os proibia se deslocarem, foram para o local, onde cerca de três mil pessoas acorreram para o encontro; a polícia interveio, de forma não-violenta; Mandela e Sisulu conseguem retornar a Joanesburgo, sem que tenham sido capturados.
Em setembro daquele ano a ordem de restrição de Mandela expirou, e ele então empreende viagem de duas semanas ao Transkei, revendo parentes e amigos, e procurando ampliar as bases do ANC, com palestras em vários lugares; a polícia tenta impedi-lo, mas desta feita Mandela a desobedece.

Prisão

Em 11 de junho de 1964 Mandela recebe uma pena de prisão perpétua. Enviado para a prisão da Ilha Robben, lá ocupa a cela com número 466/64, que tem as dimensões reduzidas de 2,5 por 2,1 metros, e uma pequena janela de 30 cm
Na prisão ficou privado das informações do mundo exterior, pois lá não eram permitidos jornais. Contudo, aprendeu a pensar a longo prazo, e procurava passar esta forma de raciocínio aos mais jovens, que cobravam dele respostas imediatistas às autoridades.
A mãe de Mandela o visitara em 6 de março de 1966 e depois, no ano seguinte, em 9 de setembro; em ambas as ocasiões o filho instara sem sucesso, como também já fizera com a esposa Winnie, para que ela fosse morar na casa deles, em Joanesburgo, onde teria mais recursos de saúde do que no campo. Após esta última visita, ele teve a sensação, durante a despedida, de que era a última vez que veria a velha senhora, então com 78 anos de idade; de fato, Nosekeni Fanny veio a falecer em 26 de setembro de 1968. Sua mãe se fora acreditando que o filho fosse um criminoso, pois ela nunca entendera sua luta, fato que o entristecia.
Em 1969 um carcereiro foi até sua cela informar-lhe que seu filho mais velho, Thembi, havia morrido num acidente automobilístico. No dia seguinte Mandela estava junto aos demais prisioneiros, trabalhando na pedreira: tinha que mostrar aos companheiros de cárcere e aos guardas que o drama pessoal não o tinha inutilizado. Entretanto é de se observar que Thembi, apesar de morar na Cidade do Cabo, jamais fora visitar o pai na prisão, apesar da proximidade. Após esta notícia, escreve em 24 de julho ao segundo filho, Makgatho, observando que ele agora era o mais velho e responsável por manter a união familiar, com a perda do irmão; insiste para que o jovem invista na educação: "As questões que hoje agitam a humanidade exigem mentes treinadas". Durante seu cárcere, segundo testemunhou Ahmed Kathrada, Mandela só perdeu a calma em duas ocasiões, quando os guardas ofenderam a moral de Winnie. Ali resolveu que precisava aprender a língua e a cultura africâner, algo que seus companheiros passando a estudar o idioma e a treiná-lo com os guardas.
Em 1976 Soweto se rebela, resultando numa feroz repressão que causa centenas de mortos; aumenta o isolamento internacional da África do Sul, a partir de então.
As visitas da esposa Winnie eram raras: de 1958 até 1985 ela sofreu por vinte e quatro vezes prisões, ordens de restrição, banimento e proibições - como em 1974, onde ficou banida na vila de Brandfort. A piorar esse isolamento familiar, Mandela não teve permissão de ver suas filhas Zinzi e Zenani enquanto elas tinham de 2 a 16 anos.
Em agosto de 1982 o regime assassina, com uma carta-bomba, sua companheira de lutas, Ruth First, que estava exilada em Moçambique; Mandela descreveu o momento: "...me senti quase totalmente sozinho. Perdi uma irmã, uma companheira de luta. Não é consolo saber que ela vive mesmo depois de morta."
No mesmo ano Mandela foi transferido, junto a outros companheiros, para a Prisão de Pollsmor, de segurança máxima; seis anos depois foi novamente transferido, desta feita para um presídio de segurança mínima - a Prisão de Victor Verster, onde passou a morar numa cabana no complexo penitenciário.
A mudança para Pollsmoor foi um avanço considerável: situado num agradável subúrbio da Cidade do Cabo, lá a família poderia visitá-lo mais facilmente. Ele e os companheiros Sisulu, Kathrada, Raymond Mhlaba e Andrew Mlangeni passaram a ocupar juntos uma imensa cela, no pátio fizeram uma horta.
Enquanto isso, em 1985, o CNA empreendeu uma campanha para tornar o país ingovernável; o presidente Botha chegou a declarar aos seu povo que precisavam "adaptar-se ou morrer". Neste mesmo ano Mandela precisou operar da próstata e foi levado ao Hospital Volks, no Cabo. Na volta, foi conduzido pelo próprio comandante do presídio, que informou-lhe de que não mais retornaria para a cela comum, e ficaria isolado dos demais. Mandela não protestou e, segundo disse mais tarde, aproveitou o isolamento para fazer algo que iria contrariar a todos - ao CNA e os companheiros de cárcere: negociar com o governo; iria agir por conta própria, sem consultar ninguém.
Escreveu então ao ministro da Justiça, Kobie Coetsee, informando sua disposição - mas teve de esperar por mais de um ano por uma resposta, que veio somente em julho de 1986: resolveu mandar um recado ao diretor, que precisava vê-lo e, uma vez na sala, disse que queria falar com o ministro. O diretor ligou ao gabinete ministerial e Mandela foi convidado a ir até a casa de Coetsee. Lá, informou que queria tratar diretamente com Pik Botha.
Só depois é que teve atendido o desejo de falar aos companheiros; não pôde fazê-lo com todos ao mesmo tempo, só individualmente lhe permitiram falar; então encontrou-se primeiro com Sisulu, depois Mhlaba e Kathrada, e todos rejeitaram a ideia. Em seguida foi a vez do CNA, dirigido por Oliver Tambo no exílio, em Lusaka (Zâmbia), que lhe cobrou explicações, temeroso.
Mesmo prisioneiro Mandela foi homenageado mundo afora: em junho de 1983 recebe o doutorado em Direito por seu "compromisso altruísta para com os princípios de liberdade e justiça" pelo City College de Nova Iorque; neste mesmo ano é feito cidadão honorário da cidade grega de Olímpia.

Em 11 de fevereiro de 1990, Mandela finalmente é solto. Uma multidão o aclama, respondendo quando no gesto de luta ergue o punho fechado. Tem fim o longo cárcere, e ele iria depois registrar o momento: "Quando me vi no meio da multidão, alcei o punho direito e estalou um clamor. Não havia podido fazer isso desde há vinte e sete anos, e me invadiu uma sensação de alegria e de força."
Os passos de Mandela ao sair da prisão de Victor Vester, atualmente renomeada para Drakenstein, foram perpetuados na sua entrada, com uma estátua em bronze de 3m de altura em que o líder aparece com o braço direito erguido e o punho fechado, inaugurada em 2008.
Nos encontros públicos que então realizaram mais tarde Mandela gritava "Amandla!" ("Poder!), ao que a multidão respondia - "Awethu!" ("Para o povo!"); mas seus discursos não eram mais inflamados, e sim conciliadores, para a decepção dos setores mais radicais.
As inovações que encontrou fora da prisão foram-lhe um choque; ao ter sido preso, em 1958, não havia sequer televisão no país; ficou surpreso por ser possível usar o telefone dentro de um avião - tinha que enfrentar um ritmo de vida que não conhecia.
Em julho de 1991 é eleito presidente do CNA, e passa a empreender viagens a vários países (inclusive ao Brasil), mostrando-se desde então verdadeiro estadista.
Em julho de 1992 um referendo entre os brancos dão ao governo, com mais de 68% de votos, o aval para as reformas e permitem a realização de uma futura constituinte.

Presidência

Dando seguimento à proposta de proporcionar a transição para a democracia multirracial, o governo Mandela teve sua maior realização na criação da Comissão da Verdade e Reconciliação - encarregada de apurar, mas não punir, os fatos ocorridos durante o apartheid; também empenhou-se em assegurar à minoria branca um futuro no país.
Para simbolizar os novos tempos adota um novo hino nacional, que mescla o hino do CNA (Nkosi Sikolele Africa - Deus bendiga a África) com o africâner (Die Stein); também uma nova bandeira é criada, unindo os símbolos das duas instituições anteriores: a bandeira oficial dos brancos, em vigor desde 1928 passou a incorporar as cores da bandeira do CNA - plasmando assim a união de todos os povos da nova nação que surgia - aprovados pela nova Constituição interina.
Somente a uma pessoa Mandela demonstrava desprezo como a de Klerk - ao líder zulu Mangosuthu Buthelezi, a quem considerava um aliado perigoso, capaz de levar o país a uma guerra civil, se isto lhe conviesse. Muitos ficaram surpresos, então, quando o nomeou seu Ministro do Interior; o presidente queria manter o adversário bem próximo, sob sua vigilância - apesar de considerá-lo volúvel e indigno de confiança. Também nomeara Winnie para compor o gabinete, mas a demitiu em 1995.
Ainda em maio foi aprovada a nova Constituição, para entrar em vigor a partir de fevereiro de 1997. Em março os africâneres, que haviam participado da coalizão, deixam o governo, encerrando assim a fase de transição para o novo regime.
Em julho de 1995 cria a Comissão da Verdade e Reconciliação sem poderes judicantes, sob presidência do arcebispo Desmond Tutu, que conclui seus trabalhos recomendando que fossem processados Botha, Buthelezi e Winnie.
Em julho de 1998, Mandela ordena uma intervenção militar no Lesoto, que vivia uma situação de anarquia, com saques e lutas, após eleições gerais em maio daquele ano, atitude esta considerada controversa.
Em 16 de junho de 1999, tem fim seu mandato, e Mandela fez seu sucessor em Thabo Mbeki, então com 55 anos, um experiente deputado e seu protegido.

Homenagens

Mandela é homenageado por todo o mundo, de diversas maneiras e de seguida estão listados alguns prémios e condecorações, para além do Nobel da Paz, em 1993.
A Índia concedeu-lhe sua mais alta condecoração, em 1990, com o prêmio Bharat Ratna. Em 1993 foi o primeiro agraciado com o Prêmio Fullbright, em reconhecimento ao seu papel no entendimento entre os povos, recebendo 50 mil dólares.
Outras formas de homenagem também se fizeram: recebeu a Ordem de St. John, da rainha Elizabeth II, a Medalha presidencial da Liberdade de George W. Bush; em 2001 tornou-se cidadão honorário do Canadá e também um dos poucos líderes estrangeiros a receber a Ordem do Canadá.
Em 2003 deu apoio à campanha de arrecadação de fundos contra a AIDS chamada 46664 - número que lembra a sua matrícula prisional.
Em novembro de 2006 foi premiado pela Anistia Internacional com o prêmio Embaixador de Consciência em reconhecimento à liderança na luta pela proteção e promoção dos direitos humanos.
Em junho de 2008 foi realizado um grande show em Londres em homenagem aos seus 90 anos, onde participaram vários cantores mundialmente conhecidos.
Em fevereiro de 2012 o Banco Central da África do Sul anunciou, numa coletiva de imprensa capitaneada pelo presidente do país Jacob Zuma, e a diretora do Banco Gill Marcus, que a efígie de Mandela irá ilustrar todas as cédulas de Rand. Na data Zuma frisou: "Com este modesto gesto, queremos expressar nossa gratidão (...). Estas notas permitirão que nos recordemos do que conquistamos ao tentar alcançar uma sociedade mais próspera".
O Dia Internacional Nelson Mandela - Pela liberdade, justiça e democracia é uma comemoração internacional instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em novembro de 2009, a ser comemorado em todos os dias 18 de julho, data de nascimento do líder sul-africano Nelson Mandela.


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